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Fantasia e diversidade: por que isso importa?

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Na última sexta-feira, fui assistir o bate-papo Diversidade, representatividade e ficção. Na mesa, os autores Jim Anotsu e Ana Cristina Rodrigues trocaram ideias sobre diversidade e representatividade na literatura com os produtores de conteúdo geek Lucas Ed e Laranja Lima. Foi uma conversa bastante interessante em que os autores apresentaram suas experiências e ideias sobre esse assunto e que me fez ficar com a cabeça pipocando. Afinal, estamos em 2016 e muita coisa melhorou, certo? Será?

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Por que ainda importa discutir diversidade na literatura de fantasia?


Nisso eu concordo com os autores do debate: hoje temos muito mais opções para nos representar do que tínhamos na nossa infância. Minhas histórias favoritas sempre foram povoadas de homens brancos heterossexuais e durante um tempo isso parecia ser só “o jeito que o mundo era”. Até que eu li As Brumas de Avalon e me identifiquei com aquelas mulheres retratadas. Essa experiência mudou minha vida (como contei nesse post aqui) e a forma como encarava a literatura de fantasia. Eu queria mais mulheres porque queria me ver naquelas páginas. Eu queria ler livros de fantasia que tivessem mulheres que fossem mais do que princesas a serem resgatadas ou prêmios para cavaleiros corajosos porque eu era mais que isso.

Foi (e ainda é) difícil encontrar livros que saiam desse estereótipo. Se pensarmos em ficção fantástica de um modo mais abrangente, é um pouco mais fácil encontrar mulheres representadas, mas a alta fantasia ainda tem se mostrado um reduto bastante conservador. Claro, tive boas experiências lendo Crônicas do Mundo Emerso e o posterior Guerras do Mundo Emerso, os nacionais Contos de Meigan e O Castelo das Águias, mas ainda me pergunto: por que a gente não tem um O Nome do Vento da vida com uma garota?

Leia também: Um livro pode mudar uma vida?Por que brasileiros não gostam de literatura de fantasia? |Por que escritores brasileiros têm que fazer o dobro do trabalho para ganhar nem metade do reconhecimento?

Talvez até exista esse livro (se alguém souber, me avisa! hahaha), mas ele não deve ter projeção. Isso porque uma mulher protagonista que é super inteligente, talentosa em várias artes e ciências, boa de briga e de cama seria taxada na hora de Mary Sue. Ela provavelmente seria retratada na capa com uma roupa super inapropriada sexualizando seu corpo e sofreria ataques da crítica mi mi mi da internet. É.

A alta fantasia é um gênero antigo, fechado e conservador. É um gênero de status mítico: ele cria histórias e universos considerados universais, totalizadores e representantes de um imaginário coletivo. No entanto, a alta fantasia é povoada de homens brancos heterossexuais. Estão vendo como isso é perigoso para nosso imaginário? Como isso limita nosso horizonte?

Começamos a acreditar que o  paradigma europeu (porque a alta fantasia se torna completamente atrelada a uma Idade Média feudal), branco, masculino e heterossexual é o único capaz de representar essas histórias de caráter mítico que tanto amamos e queremos. Mas a verdade é que esse esquema fala a poucos de nós. Quem é que pode vestir tão bem essa armadura brilhante?

Falando de meu lugar como mulher brasileira, digo que bem pouco. E olha que nem entrei na questão da representatividade étnica e sexual. Não falei nem de parar de colocar só gente magra nos livros. Ou gente bonita.

Fãs de alta fantasia são conservadores e tradicionais. Eu me canso dos grupos de discussão na internet onde ainda idolatram Tolkien (adoro Tolkien, mas Tolkien tem alguns probleminhas, people, e escreveu em 1950) e comparam qualquer outra fantasia escrita em pleno século XXI a ele. Se escreveram o livro perfeito do gênero sessentas anos atrás, por que ainda estamos escrevendo então?

Precisamos discutir e escrever mais. Precisamos abrir a cabeça e pensar que o cavaleiro de armadura pode ser o que a gente quiser quando tirar o elmo.

Representatividade é empoderamento.

Quando Misty Coppeland se tornou a primeira-bailarina negra de uma grande companhia na história mundial, milhares de meninas negras se viram no palco e puderam sonhar em dançar ballet. Quando eu li As Brumas de Avalon, eu senti que poderia ser muito mais que uma princesa encarcerada. Empoderamento é sentir que o possível está ao alcance de suas mãos. É definir sua identidade como algo positivo e transformador e não como um desvio da norma.

Precisamos de novos papéis, novas histórias, novos mundos criados onde a diversidade exista como existe em nosso mundo. E que os fãs conservadores abracem seus paradigmas limitadores sozinhos.

Melissa é escritora, blogueira e fica hiperativa com açúcar. Tem contos publicados em antologias das editoras Draco, Buriti e Cata-vento além de trabalhos independentes na Amazon. É autora do livro infantil A Última Tourada.

http://mundomel.com.br

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